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sábado, 21 de fevereiro de 2009

POLÍTICA NACIONAL | Malandragem

ANELITO DE OLIVEIRA - Desde o final do ano passado, não temos mais presidente da República, mas um cabo eleitoral de uma presidenciável. Tal é a dedicação de Lula à nova causa que não há tempo sequer para analisar, mesmo dentro dos limites da política, a natureza dos fatos que se lhe apresentam no momento. Responde a todos no calor da hora, com a finalidade maior de persuadir os gentios pelo país afora. Crise: não deixe de consumir; jornais: ler dá azia; pernambucana na Suíça: racismo intolerável; Battisti: Brasil é soberano; e para todo o resto: não se mexe em time que está ganhando. Chávez, por exemplo, não se mexe – ainda mais agora. Mas ainda bem que não estamos na Venezuela e é possível investir contra o discurso do presidente, com a intenção explícita, necessária, de desmascará-lo.
O que Lula está tentando e tentará no biênio que está se iniciando é simplificar todos os fatos para que um fato apenas se torne relevante daqui pra frente, ganhe fumos de verdade: o projeto Dilma presidente. Simplificando tudo que está na ordem do dia, toda uma série de acontecimentos que tende a configurar um dos momentos mais difíceis da história neste início de século, Lula pretende construir um fato que, na verdade, ainda nem existe. Sabe, no fundo, o quanto é difícil produzir um presidente da República em apenas dois anos, sobretudo em função da matéria-prima com que está lidando: mulher, pequeno-burguesa, impopular, autoritária, prepotente, características que plástica, meditação, sorrisos forçados e frases de efeito dificilmente conseguirão extirpar, obviamente.
Hoje autêntico populista, com todo o caldo demagógico do que há de pior na história política do país correndo solto nas veias, Lula entende que o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) é mais do que suficiente para tirar Dilma dos 13% de intenção de votos atuais e levá-la à vitória ano que vem, seja quem for o adversário tucano. De um lado, obras e mais obras faraônicas; do outro, toda a comunidade peemedebista, com seus probos administradores, nadando em dinheiro pelo interior do país. Para Lula, agora mais do que nunca, não importarão, no processo eleitoral que ele mesmo está inaugurando, os meios, mas apenas o fim, a eleição de Dilma. Seu PT, inclusive, ou o que dele ainda resta, não importará de forma alguma, referência decorativa.
Todavia, parece latente que, no fundo, o fim que Lula está buscando é aquele que, na sua compreensão malandra da realidade social brasileira, mais tende a render para ele politicamente no futuro próximo. Dilma Roussef sagrando-se perdedora, mesmo depois de dar algum trabalho, Lula “venderá” para o seu partido e o mundo, como um consolo, seu velho discurso pronto: as elites, mais uma vez na história deste país, derrotaram o povo. Consequentemente, todos hão de pensar: para derrotar as elites, só mesmo Lula, em 2014, 2018, eternamente, a estrela, o mito insuperável. Incrível: até parece que Lula leu o extraordinário ensaio de Antonio Candido (como respeito a um dos maiores brasileiros de todos os tempos e fundador do PT), cujo título é – pasmemos - “Dialética da malandragem”.

Um comentário:

  1. Anelito: é preciso dialetizar esses seus pontos de vista aí, tem um azedume que pode ser confundido com tucano. Os tucanos querem que não se pense racialmente, dizem. Mas penso que no Brasil se pensa racialmente menos do que nos USA...

    Agora, Obama tem duas faces, né? É um liberal que fala em direitos das mulheres, saúde para todos, mas só internamente; externamente, governa um país imperialista: bases na Colômbia, pau no Afeganistão, dedos de luva para tratar com Micheletti em Honduras, etc.

    Sinceramente, acho também uma decepção esse governo Lula, mas há avanços. Um dos melhores pontos é a aliança com o Chávez, assim como o apoio ao Zelaya.

    Antonio Candido também tem a ver com as coisas que vc critica, embora seja uma figura tão simpática, mas como disse Oswald, ele é um pouco mineiro e malandro. Precisamos desmistificá-lo; já leu Abel Barros Batista, O Livro Agreste?

    Soube que o Fábio, nosso colega, foi um ativo líder da greve (tenho pessoas, contatos, aí na UNimontes, saca?)Abraços para ele e para vc.

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