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sábado, 7 de março de 2009

LITERATURA | Poemas inéditos

ANELITO DE OLIVEIRA - Há quase cinco anos não publico nada de poesia. Só planejo. Escrevo, projeto, converso com editores e volto, desanimado, ao silêncio. Vinte anos a serviço da poesia – criando, pensando, difundindo, agitando etc – e apenas dois livros, mal publicados e mal distribuídos: Lama (2000) e Três festas: a love song as Monk (2004). Mesmo com a recepção tão entusiasmada de leitores-críticos que respeito: Armando Freitas Filho, Adolfo Montejo Navas, Fábio Lucas, Ivan Marques, Edgard Pereira, Mário Alex Rosa, Maria José de Queiroz, Maria Antonieta Pereira, Alécio Cunha, entre outros. São vinte anos e dois livros! Além dos poemas divulgados no Suplemento, Dimensão, Medusa, Na virada do século de Frederico Barbosa e Cláudio Daniel e Poetas na biblioteca de Reynaldo Damázio, nada. O que eu esperava que aconteceria? Tudo. O que aconteceu? Nada. Nunca houve nem haverá tempo-espaço bom para publicar poesia. Os poemas no mundo, então, em qualquer suporte, à procura de algum acolhimento.


A DESTRUIÇÃO

1.

A vida destruiu
a alma,
Onde estava o amor

O corpo segue
Sem nada

O que tenho a dizer?

2.

O outro lado é a negação.
Este, o que ainda resta de uma vontade,
a vibração.
Dali, do outro lado, chega-se depois de tanto tempo, corpo empoeirado
náufrago ofegante.
Chega-se dali com um copo
De vida na mão. E é tão fácil, tão simples, entorná-lo, destruí-
Lo. Tudo nega o que disse.
Afirma. O outro lado é tudo que mata.
A vida.

3.

Aqui estou.
Exatamente onde
Estivemos.
Sozinho,
Agora penso o que diria
Para tornar as coisas
Menos ordinárias.
Diria
Que não tenho sentido,
Por exemplo.
O que é isso?
E sorriria:
O que se tem
Quando tudo está,
Como na canção,
Perdido.
Aqui,
Exatamente assim,
Estou.

4.

Eis que me vem
A sua lembrança
Eis que me vem o desejo
Da sua presença
Eis que me vem a
Sensação da distância
Você distante
Eu distante
Distantes daqui
Desaproximados
Ausentes
Enfim
A força esmagadora da
Ausência:
Uma canção qualquer
O rádio
O quarto
Eu


5.

Eram 29 anos e a
Premência de chegar
Aos 30. São agora
38 anos e a premência
De chegar aos 39
E resultar apenas
Nos 40. A premência
De perder a vontade
De descobrir, de se
Dar por descoberto,
Conhecido de si, o
Mais trivial vizinho.

6.

O que restou?
A lembrança.

7.

Diante de uma lembrança,
O limite. Este aqui, onde
A água se detém. Como
Um touro, detém-se,
Detida. Como um menino
Cego diante do espelho.
Era um touro. Era um
Menino. Era um touro
Terno como o verde dos
Olhos. A água nos olhos.
Terno, como a verdade
No desamparo. Este mar.


Anelito de Oliveira
Verão de 2009

Um comentário:

  1. Anelito: nós da nossa área somos tão atrasadinhos com relação a essa tecnologia perversa, não somos?

    Quando vc entrar no tuíter vc me segue lá, tá?

    Evoé! Vc tá poetando até bem!

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