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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

CULTURA | O desmoronamento do IMS

ANELITO DE OLIVEIRA - Como receber a notícia do fim das atividades do Instituto Moreira Salles (IMS) em Belo Horizonte, com o fechamento do seu elegante espaço em pleno centro da cidade, senão como um desastre cultural de proporções nacionais? E como acreditar, por outro lado, que as autoridades públicas municipais, estaduais e federais, bem como setores da iniciativa privada, tenham deixado, estejam deixando, tal fato acontecer?
Talvez isso – a permissão do desastre - diga muito sobre a permanência no país de um desinteresse das elites socioeconômicas pelo acesso, por parte das pessoas em geral, a bens culturais que conscientizam, humanizam e transformam modos de estar no mundo. Para quê, sobretudo, transformar pessoas, principalmente pobres? São mais úteis ao sistema, sem dúvida, do jeito que estão, sem saber sequer de onde vieram, o que as distinguem das coisas – enfim, são mais úteis sem passar efetivamente pela “perturbação” da cultura.
O IMS foi, ao longo dos últimos anos, não só uma referência cultural em meio à brutalidade e banalidade cotidiana de uma metrópole, mas uma referência de modo outro, inteligente, de lidar com a cultura, muito diverso daquele exibido historicamente pelos órgãos municipais e estaduais, viciados no “pão e circo”. O IMS sempre ostentou uma compreensão altamente generosa de público, rompendo com preconceitos históricos e disponibilizando, para as pessoas em geral, obras de arte contemporânea, gestos literários e musicais dos mais elevados.
Sob a sensível direção do poeta Antonio Fernando de Franceschi – um homem raríssimo, da estatura de alguns dos maiores que este país já produziu, um Mário de Andrade, um Antonio Candido -, o IMS vinha desempenhando um papel de agregador e formador de pessoas pela cultura, oportunizando um envolvimento sóbrio, pensado, com a arte. Suas ações o distinguiram, desde o início, de espaços culturais públicos, como os Centros Culturais BH e UFMG, bem como o “engessado”, restritivo, Palácio das Artes.
Em BH como em outras cidades do país, os espaços mantidos pelo IMS configuraram, de meados dos anos 90 para cá, um exemplo extraordinário, sem precedentes, de responsabilidade sociocultural por parte da iniciativa privada. Franceschi, como fiz questão de lhe dizer tantas vezes, foi nosso Ministro da Cultura ideal ao longo deste tempo. E se tudo parece estar desmoronando ante o olhar cínico dos Governos, da mídia e dos “homens cordiais”, convencionais, é porque este país é mesmo, como Bianchi nos provou, cronicamente inviável.

Um comentário:

  1. Anelito, que notícia! Não soube disso. Vão ficar boas lembranças: vi, no IMS, Ligia Fagundes Telles, Fernando Gabeira, Cony...

    Como é que BH perde isso sem reclamar, hein? É como o Instituto Goethe. Depois nos perguntamos porque somos tão pouco protagonistas da cena nacional...

    Abs do Lúcio Jr.

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