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domingo, 13 de dezembro de 2009

LITERATURA | Criação

O retorno
O difícil era mesmo retornar. Ir não era tão fácil, mas até certo ponto era mais fácil. Mas retornar... difícil, como?. Havia muitos caminhos. Todos iguais e diferentes. Deveria escolher um deles, e caminhar. Estava a pé. Mas isso não significava nada. Se estivesse a cavalo, também sentiria a mesma dificuldade. Não sabia o que era andar a cavalo, mas sabia que também o cavalo faria o mesmo movimento de um lugar a outro. Qual? Teria que escolher entre muitos, não poderia escolher todos os caminhos. A pé, o fato de não dispor nem mesmo de um cavalo, situava a questão mais diante dele mesmo. Poderia andar menos ou andar mais. Poderia chegar facilmente aonde ia. Poderia se perder e não chegar a lugar nenhum. Era preciso escolher em face do próprio pé. O pé era, sem dúvida, um parâmetro fundamental nessa escolha. Estava a pé. Se tivesse pensado nisso realmente, não iria. Mas quando se quer ir, não se pensa tanto. Exatamente porque se sabe que não se vai. Exatamente porque se sabe que se fica no pensamento. Então, não pensara realmente no retorno. Tinha ido, e estava na hora de retornar. A pé. Ouvindo o próprio caminhar. Estaria sozinho por um longo tempo. Como isso lhe causava apreensão! Sozinho no caminho. Qualquer que fosse o caminho escolhido. Àquela hora, havia outras pessoas caminhando. Mas eram outras pessoas. Não o veriam. Também estariam sozinhas, ensimesmadas. Estaria sozinho. A pé, sempre se está sozinho. Inútil tentar se aproximar dos outros ao seu lado, também caminhando a pé. Estariam, a pé, encerrados numa distância intransponível. Ficaria em silêncio. O tempo todo caminhando em silêncio. Compenetrado em si mesmo. A apreensão se convertia em terror. Retornava ao mundo de onde tinha partido. Era melhor ficar ali. Parado. Olhando.

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