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domingo, 22 de julho de 2012

ACAMPAMENTOS 2 | Anelito de Oliveira

Tudo era muito limpo, excessivamente limpo, a ponto de materializar a obsessão. Alguém obcecado com a pureza – morava ali. Era uma espécie de condomínio. Duas quase-casas entrelaçadas, uma para um lado, outra para o outro. À frente deste, duas kitnets, supostamente barracão – palavra ampla, abarcadora. Em meio a estas e aquelas, um corredor levando à casa do dono de tudo, o exigente. Exigia disciplina, respeito e, claro, pagamento em dia. Nada de som alto. Nada de liberdade. Não havia lado de dentro. Tudo era visível – uma vitrine. Não coubemos ali. Éramos muitos, uma multidão. Apesar de apenas três. Menos que três. Vazamos delicadamente, como sombras. Restou a rua.

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